Uma das perguntas que mais recebo é "como você descobriu seu estilo?".
Deve ser também uma das perguntas mais feitas para muitas outras pessoas que dividem publicamente suas escolhas envolvendo moda e estilo.
Imagino que cada uma dessas pessoas também vai ter uma resposta diferente.
Comigo foi uma longa história.
Tem começo, tem meio, tem vilão (?), tem clímax, mas não tem fim.
É um processo que segue acontecendo, e eu sigo desenvolvendo essa relação que, no fim do dia, é sobre nossa relação com a gente mesma, com nossa identidade. E ela (a nossa identidade) está sempre em transformação.
De uns tempos pra cá voltei a olhar pra essa história com muito mais interesse e carinho.
Isso porque tive maus momentos com a moda, e quis me distanciar desse universo, fechar as portas e ignorar o fato de que eu realmente gosto disso.
Eu gosto de moda, eu gosto de como faz eu me sentir, de como eu fico arrepiada vendo um desfile, de como meu olho enche d'água ao ouvir uma estilista falar das suas inspirações, de como eu genuinamente acho interessantíssimo como cada pessoa escolha se vestir t-o-d-o-s os dias.
Não que tenha sido empre assim.
Mas mesmo depois que encontrei essa paixão, em um dado momento eu escolhi (ou precisei) seguir outro rumo, porque o universo da moda é sim muito encantador, mas é também teneboroso – sem meias palavras aqui.
E falar do meu estilo, falar de moda, significa falar da história da minha vida.
Da minha vida, de como eu vim parar aqui, dos caminhos que eu trilhei, das escolhas que eu fiz, dos lugares que trabalhei e as coisas que eu vi.
Em algum lugar dentro de mim mesma eu sempre guardei essas histórias com muito carinho, mas também com um certo gosto amargo. Por vários motivos.
Um deles é que eu achava que contaria isso num livro. O que nunca aconteceu – não por falta de oportunidade, mas porque eu tive medo. Lembro duma editora da Globo Livros (Melissa era o nome dela) me dando o "It", da Alexa Chung, e falando que queriam fazer algo naquele estilo, se eu topava. Tenho o livro até hoje e sempre que olho pra ele lembro da Stephanie de 27 anos que não conseguiu seguir adiante por não se achar a altura daquele convite que era tudo que ela sempre havia sonhado.
Esse não foi o primeiro convite. Outros dois aconteceram, um antes, outro depois. E eu não tive coragem.
E essa falta de coragem resvalava no fato de que eu me achava insignificante e tinha certeza de que seria um fracasso. Todas as pessoas que eu conheço que lançaram livros foram um sucesso. Elas estavam no auge, viraram best sellers. Eu não queria ser "normal", e a minha arrogância dos 20 anos me dizia que não estar na lista dos Mais Vendidos era a pior coisa que poderia me acontecer. Pior do que não realizar um sonho.
(Contei sobre isso nesse texto aqui embaixo)
Hoje eu acredito que pelos motivos errados eu fiz a coisa certa.
Eu respeito muito todas as fases pelas quais passei, mas eu não estava pronta. Não ali.
Mas esse foi só um dos motivos.
Teve esse outro que foi minha desilusão com a própria moda. Talvez a maior que eu já tive. Pra ser mais específica, com a minha carreira na moda. Eu me frustrei tanto que jurei nunca mais me envolver com esse universo – e nessa cruzada antimoda e anti tudo o que antes fazia parte de mim, eu me perdi completamente.
E essa é uma parte crucial da história.
Hoje de manhã (domingo!), enquanto tomava meu café, comecei a assistir à série documental "In Vogue – The 90's"1. Entre cenas de Linda Evangelista assumindo que ficou mal quando Kate Moss virou a queridinha dos estilistas, Anna Wintour contando que foi o comentário de um senhor conservador sentado ao seu lado durante um vôo que a fez colocar a Madonna na capa da Vogue US, e o primeiro desfile de Tom Ford pra Gucci, eu fui ficando emocionada. Esse universo, como já disse, me anima. Me enche de vontade de criar, de conhecer, de experimentar. E eu tava deixando isso guardado nessa caixa num canto da minha mente há tempo demais.
E enquanto assistia a tudo aquilo, fui ficando cada vez mais inquieta.
Eu não quero mais não-ser-da-moda.
Eu quero falar disso, escrever sobre, me envolver da forma que fizer sentido e que der. Porque eu me divirto, porque me inspira. E porque eu já não sou mais aquela Stephanie.
Pois bem.
De fato falar do meu estilo e dessa relação é inegavelmente falar da minha história.
É adentrar esses capítulos, fazer uma viagem dentro de mim mesma. Olhar pra quem eu fui, quem sabe até fazer as pazes com algumas coisas. Com certeza reviver alguns dos meus mais queridos momentos.
Como quando eu tive o imenso privilégio de assistir a um desfile da Chanel em Paris. Ou quando me tornei editora de beleza com apenas 22 anos e realizei muito cedo um dos meus maiores sonhos.
Vivi muitas vidas em uma vida. Vesti muita roupa, fui muitas versões de mim mesma. Tudo segue aqui, de jeitos diferentes.
Talvez a coisa mais bonita que aprendi nesses quase trinta e cinco anos foi carregar quem a gente é, todos os pedacinhos, mesmo aqueles que a gente não ama, com muita carinho. É esse caleidoscópio que faz a gente ser quem a gente é.
Algo que, lá atrás, eu (infelizmente) não sabia.
Fui escrevendo e ficando muito animada! Quero contar sobre como aprendi a andar de salto - algo que hoje eu definitivamente faço muito pouco - e como usei uma camiseta dos Jogos Universitários da ECA-USP na minha primeira entrevista de emprego em um veículo de moda.
De como eu me recusava a usar quaisquer tipos de calças e da minha primeira dívida no banco por causa da Farm.
Mas eu não pretendo ser linear – também vou dividir coisas que fazem parte do meu hoje, e pequenas descobertas diárias com meu guarda-roupa (e com a minha urgente necessidade de tirar mais de 70% dele pra fora, vender/doar tudo e conseguir olhar as coisas com mais intenção). Quem sabe no meio disso também não gravo uns vídeos… (✨manifestando✨).
A ideia é a gente semanalmente, às quartas-feiras, ter esse encontro aqui, com essas histórias, essas imagens (o que eu tiver e encontrar!) e essa construção de estilo e de vida.
Os primeiros ficam abertos pra todo mundo, e ali mais pra frente, só pra assinantes.
E claro que seguirei falando de outros temas. Meu coração, minha vida, nosso Clube de Leitura (vem ler com a gente) e o que mais fizer sentido pra mim.
Nos vemos já já,
Com carinho
Stephanie Noelle
<3
esse texto me fez voltar no tempo pra quando era parte da minha rotina entre ensino médio e técnico entrar no chez noelle pra ver o que você tinha a dizer - e era também a época que eu acreditava que trabalharia com moda e da minha primeira divida de cartão por causa de uma bota de 120 reais.
E nada impede que tudo isso vire aquele livro sonhado no futuro, às vezes tudo que esse texto precisava era sair num lugar mais amigável e com menos pressão. E de tão intenso, verdadeiro, intímo e legal ele ganhe asas e voe em outros cantos! Vou amar acompanhar esse tema da moda por aqui. Vc é mt original. Lembro quando vc falou sobre peitos pequenos e como isso me influenciou, até te encontrei uma vez no Bar do Vital em 2018 e entreguei um bilhete falando sobre isso. Uma garota com peitinhos amando seus peitinhos. Beijos, aguardo os próximos!