Todos os anos, desde que eu me lembro, janeiro era recheado de expectativas. Tudo começava ali em dezembro, com as listas do que eu queria pro ano que se aproximava. Eu ia fazendo um balanço daquele que estava chegando ao fim e organizando mentalmente as metas e objetivos praquele prestes a começar.
Pois esse ano nada disso aconteceu.
Eu não fiz uma lista.
Eu não fiz um balanço.
Eu nem acordada estava quando 2024 foi embora de vez.
Esse ano eu só queria estar bem comigo, estar em paz, respirar tranquila.
2024, vulgo “ano passado", começou com o coração apertado, a cabeça cheia, um monte de medos, insegurança, ‘será que a tég vai conseguir sair dessa crise?’, ‘será que vamos ser capazes de manter a equipe aqui com isso tudo tão caótico?’, ‘será que eu vou ter salário no mês que vem?’ e mais um monte de coisa que alguns anos antes eu jamais imaginava ter que pensar. nunca sonhei em ser empresária - mas hoje eu não me vejo fazendo outra coisa (embora tudo-muda-o-tempo-todo e eu já aprendi que o roteirista da vida gosta mesmo é de surpreender).
problemas de gente grande que rondaram minhas noites e meus dias por quase um ano. foi só em março que fui dormir em paz pela primeira vez em mais de seis meses, a primeira vez que não chorei de ansiedade e medo numa terça à tarde depois de me fazer de forte numa reunião com a equipe.
e então 2024 se desenrolou de maneiras que eu mesma não seria capaz de imaginar.
a tég se fortaleceu, conquistamos clientes incríveis (em vários sentidos da palavra), fizemos projetos muito legais, ganhamos um monte de prêmios, viajamos com a equipe pra fortaleza, contratamos gente muito boa e muito legal, e eu aprendi muito, imensamente. mais do que isso, eu me conectei profundamente com o que eu faço e porquê eu faço.
enquanto a minha vida profissional se fortalecia, algo não estava bem da porta pra dentro. se você reparar bem, foi mais ou menos ali no meio do ano – eu parei de escrever, fiquei relapsa, sumia, e a energia que não era investida na minha pessoa jurídica era toda sugada pelo caos da pessoa física.
parei de dançar, parei de ler, me alimentava apenas de entretenimento que deixava minha mente parecendo um peito de frango de tão lisa.
parei de sonhar.
fiquei tão vazia de mim mesma que não sabia responder pra onde eu estava indo, o que eu queria, quais eram as minhas vontades e os meus desejos.
eu não estava em paz.
na verdade eu estava quilômetros e quilômetros de distância de qualquer coisa semelhante a isso.
e portanto esse é meu desejo pra esse ano: resgatar a mim mesma e encontrar alguma paz, algum conforto, e alguma leveza.
em vários sentidos.
comigo, com amigos, com o mundo.
com experiências que antes eu me negava, com meus hobbies, com meu trabalho, com meu corpo, com a minha mente.
uma meta que só se completa vivendo.
e cá estamos nós:
vivona e vivendo.
e esse é meu desejo também pra todas nós: viver com alguma paz, algum conforto e alguma leveza.
(porque vai ter desconforto, vai ter treta e nem sempre vai ser leve. mas não precisa ser assim o-tempo-todo).
pouco tempo atrás eu contei no Instagram que queria experimentar um formato diferente aqui na newsletter, em que respondo às perguntas e aos pedidos de “conselhos” (difícil essa definição, né? talvez uma perspectiva sobre alguma questão? conselho carrega uma responsabilidade difícil!) com menos amarras aos formatos daquele aplicativo. tanto em relação ao tamanho do texto quanto à efemeridade do que se compartilha.
tudo começou porque alguém disse que queria ser minha amiga 🌹, e acho que no quesito amiga eu sou uma boa ouvinte, mas também falo o que eu penso, tentando oferecer algo pra além do que a gente tá ruminando ali na nossa mente.
quem me acompanha parece que gostou, e eu estou aqui pra estrear essa brincadeira.
gostaria inclusive de compartilhar que são 5h59 da manhã da quarta-feira. eu acordei uma hora atrás, depois de dormir pouquíssimo (quatro horas, se muito) e não conseguir voltar pro sono.
minha mente é assim: na hora que desperta, ela imediatamente começa a trabalhar (não necessariamente em coisas de trabalho, ela só liga em modo full power), e é tão rápido que eu dificilmente a venço. só me resta aceitar e fazer algo com isso. às vezes eu leio, às vezes eu vejo filmes antes do sol nascer, e hoje eu resolvi escrever essa newsletter.
eu recebi perguntas ótimas, e todas merecem sua própria edição da newsletter. vou inclusive compartilhar algumas com vocês, pra termos algo pelo qual ansiar:



coisa simples, bem de boa! hehehehe
algumas delas eu inclusive levei anos pra responder, mas vamos lá, meu sol em sagitário adora um desafio.
hoje vou responder três!
P. Qual tem sido seu maior ato de autocuidado?
Vou começar por essa porque sinto que tem a ver com a vibe do resto da newsletter e com a ideia de começo de ano, começo de ciclo, essa coisa toda.
Autocuidado virou um termo commodity - uma mercadoria vendida em larga escala, com um discurso que parecia que era sobre nos fazer bem, mas no fim das contas era só sobre manter a gente amarrada em mais uma obrigação capitalista de gastar dinheiro pra preencher o vazio existencial.
No entanto, autocuidado existe de verdade. E ele não é vendido na prateleira da Sephora.
Não que eu não tome partido desse também. Adoro uma máscara facil, inclusive estou fazendo uma agora enquanto digito essas palavras.
Mas isso é skincare, não “self-care” (cuidado com a pele, não autocuidado).
E a gente só começa a responder direito essa pergunta se a gente separa bem essas coisas.
“Cuidado", aliás, foi um #temão do meu 2024. Ou a falta dele. Mas divago.
Ao chegar nos últimos três meses do ano, eu repeti muito pra mim mesma, pras minhas terapeutas (tenho duas) e pras minhas amigas e amigos que eu só queria “cuidar de mim".
E eu fiz isso. Eu me investi nessa tarefa e sigo nela, inclusive porque não tem uma linha de chegada. Você não vira e fala “tá bom de autocuidado, agora eu vou de autodestruição”. Quer dizer, não conscientemente. (acho? não tenho certeza).
A questão é que é uma prática e uma intenção.
E tenho pra mim que nós, especialmente mulheres, mas também pessoas que cresceram em ambientes nos quais precisaram desde muito cedo cuidar de outras pessoas, cuidar de outras questões e cuidar da sua própria sobrevivência de maneira muito pragmática, escolher cuidar de si é uma Grande Coisa. É quase “errado”. Por isso mesmo, gostaria de dizer que é sim uma revolução.
Pra mim foi e tem sido algo bem próximo disso.
Autocuidado como a prática de escolher a si mesma.
Não de um jeito autocentrado ou egoísta.
Em que só a sua vontade e seu desejo importam (sem levar em conta consequências, responsabilidades e limites).
Pelo contrário.
Onde sua vontade e seu desejo também importam.
São tão válidos quanto o de qualquer outra pessoa.
E ouvir, validar e escolher minhas vontades e meus desejos tem sido meu maior ato de autocuidado.
Isso, na prática, tem se manifestado de formas muito interessantes.
Tenho escolhido fazer aquilo que me dá prazer com muito mais frequência - e colocando isso como prioridade tanto quanto as obrigações do dia a dia.
Voltei a dançar com regularidade, estou experimentando outros tipos de rolês, passo um tempo delicioso (e considerável) sozinha sem me preocupar com nada e nem ninguém além de mim mesma, voltei a andar de bicicleta, a surfar, e a conhecer gente nova que também me apresenta uma nova (ou esquecida? escondida? abafada?) versão de mim mesma.
A falar “e se eu pudesse fazer isso?" e então fazer pra ver onde vai dar.
Uma dessas coisas foi meu final de ano.
Por um desses bonitos acasos da vida, minha amiga Thais me apresentou ao Daniel Hey - que eu não saberia descrever de outra forma que não “alguém com uma abertura linda pra vida e um coração grandioso". E ele divide isso com as pessoas de formas também muito bonitas. Tudo começou quando, ali por agosto, eu encasquetei que ia aprender a meditar. Eu estava nessa busca incessante por me aperfeiçoar, melhorar, aprender a lidar melhor com a minha ansiedade e angústia e com a situação na qual eu me encontrava e acreditava que a meditação poderia ser um caminho. Thais me falou de Dani e eu me conectei com ele. Não falamos sobre meditação, mas eu falei das minhas angústias e ele me ouviu com cuidado. E então me apresentou perspectivas e jeitos de ver que me fizeram chorar copiosamente de olhos fechados. O Dani me mostrou uma porta e eu pude vislumbrar que do lado de fora havia um universo em expansão.
Não nos falamos mais até meados de setembro ou outubro, não me lembro mais. Fiquei curiosa com uma viagem pra Chapada dos Veadeiros que ele havia organizado, e escrevi perguntando sobre outras possíveis datas. E então ele me falou do Sopro, esse retiro de final de ano, no sul de Minas Gerais. Lembro de nem ter lido direito o material que ele havia me enviado pra responder de bate-pronto “Eu vou".
E eu fui.
Sem conhecer ninguém, sem saber direito nada do que aconteceria lá pra além das atividades listadas no PDF: acordar cedo, praticar yoga pela manhã, rodas de conversa, caminhadas e as refeições diárias, além de pouca energia elétrica e sinal de celular.
Não havia nada de sinal, a internet não existia, e preferi o banho de rio ao banho quente à base da energia solar. Dormi e acordei numa casa com outras 20 pessoas que de desconhecidas passaram a ser parte da minha família, de alguma maneira. Cuidei e fui cuidada e estive muito presente em conversas de horas na frente duma chama bruxuleante de velas como a única fonte de luz.
Não fazia muita ideia do que poderia acontecer, mas me abri pra possibilidade. “E se eu pudesse fazer isso?”. Parti do princípio de que eu estava buscando paz, acolhimento e uma virada de ano tranquila. Eu não queria me preocupar com ‘qual a festa mais legal', ‘qual o look mais legal’ e muito menos ‘o que eu vou estar fazendo quando der a meia noite porque isso vai definir todo o meu ano e se for uma droga pronto danou-se’. Estar perto da natureza era algo que eu sabia que me faria bem, e então me deixei ir, quase num movimento inconsciente do meu coração indo na frente por mim.
Foi a melhor coisa que fiz, definitivamente.









Lá conheci gente de todas as idades, de vários lugares diferentes, com histórias completamente únicas. Ninguém era igual, ao mesmo tempo que todo mundo estava ali pra dividir duma experiência em conjunto. Na nossa última noite e partilha, senti de compartilhar algo que estava no meu coração: que naquele ambiente, com aquelas pessoas, eu havia re-aprendido a ser cuidada, re-aprendido a ser ouvida. Ali, ninguém perguntou o que eu fazia-da-vida, mas todos queriam saber o que eu achava da vida. Como eu enxergava a vida e o quanto é só isso mesmo que importa. O jeito que a gente se coloca diante do universo e recebe o que ele tem pra nos dar.









Senti uma calma indescritível quando finalmente me dei conta de que meu 2024 foi exatamente o que tinha que ser. A vida gritando no meu ouvido que eu tava pequena demais ali, apertadíssima, sem espaço. Me senti em paz.
Por muitas e muitas vezes questionei “por que comigo? por que eu? por que isso está acontecendo comigo?’ até entender, ali, no meio de um monte de estranhos-que-viraram-amores, que a lição que eu precisava aprender não era a de me melhorar, de me aperfeiçoar, de encontrar meios de aguentar mais daquilo. A lição era a deixar ir. Fluir com a vida. Não lutar contra, forçar algo, controlar tudo, viver em desconforto.
Ao nos abraçarmos, disse a cada uma daquelas pessoas como a vida ter me colocado ao lado delas havia sido um presente. Olhei no olho dizendo isso. Abracei com força. E ouvi as coisas mais lindas do mundo sobre mim.
E mais uma vez chorei, e dessa vez não por não acreditar, mas por finalmente me ver de verdade naquelas palavras.
Comemos uma sopa, cantamos ao redor da mesa, dormi cedo.
Veio a meia noite e eu estava sonhando com algo que nem me lembro mais.
Acordei e era dia 1º de janeiro de 2025.
E eu tive certeza de que já não era mais a mesma. A vida havia tomado outro rumo.
E hoje, dia 29 de janeiro, sorrio em dizer que essa sensação permanece. Algo fundamental mudou em mim e segue firme toda vez que eu me escolho. Aqui mais um pouquinho dessa experiência.




P. Tá solteira?
Tô!
P. Conta do seu processo de escrita da newsletter:
Essa pergunta é ótima pra eu dizer uma coisa importante: vou pausar o nosso clubinho de leitura & a assinatura da news até eu conseguir encontrar o ritmo de escrita que tivemos ano passado.
A vida teve esse duplo twist carpado, e eu tô tendo dificuldades de escrever pra news no meio duma rotina que tem uma empresa que, glóriaaaaaa, está indo bem e crescendo, mas está exigindo 130% de mim mesma, a volta dos meus hobbies pra manter minha saúde mental em dia (o cinema, a dança, o surf, a bike, a academia), meus momentos de solitude e meus momentos redescobrindo essa vidona que tem aí fora. Vidona essa que tem rendido excelentes aprendizados, entretenimento e histórias que, um dia, eu conto pra vocês 👁️
PS: Se você chegou até aqui, quer me ajudar a dar um nome pra essa coluna de perguntas & respostas? Deixa nos comentários!!!
Um beijo
cheio de carinho
Stephanie Noelle
Olha, como eu sou muito ~das antigas~ me veio à mente o Chez Noelle, lembra? Obvio que sim! Hahaha Falando sério, acho que algo com chá (vi as fotos do chazinho e da flor no prato e me inspirei), tipo “Pausa para o chá”, ou até mesmo “Chá Noelle”, fazendo referência à baby Nonô, de quando tudo aqui era mato e essa vida de hoje era apenas um sonho ❤️✨
confesso que eu ri da respostona profunda da primeira pergunta seguida de “ta solteira?” “tô!” hahahahaha